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Relatório Global da Música 2025: um olhar sobre os rumos da indústria musical

(Baseado no Global Music Report 2025, publicado pela IFPI)

A música segue sendo uma força poderosa na cultura global, e os dados do Global Music Report 2025 confirmam que a indústria fonográfica está mais viva do que nunca. Em 2024, a receita global da música gravada cresceu pelo décimo ano consecutivo, alcançando US$ 29,6 bilhões — um aumento de 4,8% em relação ao ano anterior. Embora esse crescimento tenha sido um pouco mais modesto do que nos últimos anos, ele reforça a solidez e a capacidade de adaptação do setor diante de mudanças tecnológicas e de comportamento do público.

O principal motor desse crescimento foi o streaming, que representou 69% da receita total. Dentro desse formato, os serviços por assinatura corresponderam a 51,2% da receita global, com crescimento de 9,5%. O número de usuários com contas de assinatura chegou a 752 milhões em todo o mundo. A popularidade do streaming comprova a transformação digital do consumo musical, mas o relatório também aponta para um mercado que mantém formatos diversos. A receita com vinil, por exemplo, cresceu pelo 18º ano seguido, enquanto CDs e vídeos musicais registraram quedas.

Mercados em expansão

O crescimento foi global: 55 dos 58 mercados analisados apresentaram aumento de receita em 2024. Três regiões se destacaram com crescimentos acima de 22%: Oriente Médio e Norte da África (MENA), África Subsaariana e América Latina. O Brasil cresceu 21,7% e foi o país de maior expansão entre os 10 principais mercados. O México, por sua vez, subiu uma posição e passou a integrar esse grupo seleto.

Esses números refletem o fortalecimento de mercados anteriormente considerados emergentes, agora protagonistas na construção de um cenário musical global cada vez mais diverso e conectado.

A importância das gravadoras no ecossistema musical

Um dos pontos centrais do relatório é o papel das gravadoras como parceiras estratégicas dos artistas. Muito além do financiamento de projetos, elas atuam como facilitadoras criativas, investindo em tecnologia, dados e inovação para potencializar a conexão dos artistas com os fãs.

O relatório apresenta estudos de caso de artistas como Tyler, The Creator, Myke Towers e Chappell Roan, mostrando como o suporte de uma gravadora pode moldar carreiras internacionais sem comprometer a autenticidade artística. No caso de Chappell, por exemplo, o trabalho da Island Records focou em respeitar a base de fãs construída organicamente, transformando esse vínculo em alicerce para uma trajetória que culminou no prêmio de Artista Revelação no GRAMMY 2025.

Inovação e tecnologia: IA e experiências imersivas

O uso responsável da inteligência artificial é outro grande destaque do relatório. Gravadoras como Universal, Warner e Sony estão desenvolvendo e licenciando ferramentas de IA para ampliar a criatividade dos artistas e criar novas experiências com os fãs. Um exemplo tocante é a recriação da voz do cantor Randy Travis — que perdeu a fala após um AVC — por meio da IA, permitindo o lançamento de novas músicas com sua voz original. Outro exemplo marcante foi o show virtual do artista Myles Smith dentro do jogo Fortnite, integrando música e videogame de forma inovadora.

Esses projetos mostram como a tecnologia, quando usada com responsabilidade e respeito aos direitos autorais, pode enriquecer a arte sem substituir sua essência humana.

Desafios e ameaças à sustentabilidade do setor

Apesar do otimismo com os números, o relatório também aponta ameaças crescentes à sustentabilidade do ecossistema musical. A principal delas é o uso indevido de obras musicais por desenvolvedores de IA generativa sem a devida autorização — uma prática que, segundo o relatório, compromete a remuneração justa dos artistas e pode prejudicar a criação musical no longo prazo. Além disso, a manipulação de streamings (quando robôs geram reproduções falsas de músicas) é descrita como uma forma de roubo que mina a confiança nas plataformas digitais.

Diante disso, o IFPI defende uma atuação mais firme dos governos e da indústria para garantir que o uso de IA respeite os direitos autorais e que medidas legais sejam adotadas para impedir a manipulação de dados de execução.

Cultura, diversidade e impacto econômico

Além do impacto direto nas carreiras artísticas, o relatório reforça o papel das gravadoras no desenvolvimento de economias criativas locais. Com investimentos em talentos e em equipes regionais, a indústria fonográfica ajuda a consolidar mercados, formar profissionais, gerar empregos e exportar cultura.

Iniciativas como o selo 91 North Records, criado pela Warner Music para conectar artistas sul-asiáticos no Canadá e na Índia, são exemplos de como a música pode ser ponte entre culturas, ampliando o alcance de vozes diversas para audiências globais.

Conclusão: um futuro que precisa ser cultivado

O Global Music Report 2025 mostra uma indústria que cresce, inova e resiste. Mas esse progresso não é garantido — ele depende da valorização da criação humana, da proteção aos direitos autorais e de políticas públicas que assegurem um ambiente justo e competitivo para todos os envolvidos.

A música continua sendo uma forma essencial de expressão e conexão. E para que ela continue florescendo, é fundamental proteger quem a cria, apoiar quem a promove e garantir que o futuro seja construído com responsabilidade, colaboração e paixão.

Lucas Oliveira – Relações Internacionais

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