2018 é o ano do centenário do compositor Adelino Moreira, autor de muitos sucessos da música popular brasileira. Quem não conhece Negue, Fica comigo esta noite, A volta do boêmio, gravadas por Nelson Gonçalves, ou Cinderela, por Angela Maria, e Ciclone, por Carlos Nobre? Composições que tornaram-se inesquecíveis e até hoje fazem parte do repertório dos seresteiros. Adelino nasceu em uma aldeia chamada Covelo, Concelho de Gondomar, distrito do Porto, Portugal, no dia 28 de março de 1918. Era filho de Serafim Moreira Sofia e Maria Rosa Martins de Castro. A família veio para o Brasil em meados da década de 1920.
No início da década de 1940, Adelino iniciou sua carreira como cantor. Na época, seu pai era um dos patrocinadores do programa Seleções Portuguesas, do Maestro Carlos Campos, na Rádio Clube do Brasil, onde Adelino começou a cantar. Suas primeiras gravações foram os fados “Olhos d’alma” e “Manita”, o samba “Mulato artilheiro” e a marcha “Nem cachopa, nem comida”. Gravou alguns discos aqui no Brasil, na Continental, em 1945 e 1946, e também em Portugal, em 1947, na gravadora Pharlophon.
A carreira como cantor durou pouco tempo. Após uma viagem a Portugal, onde se apresentou em teatros e emissoras de rádio, decidiu que queria seguir carreira na música somente como compositor.
No início da década de 1950, compôs várias músicas em parceria com a dupla Zé e Zilda. Fez sucesso no carnaval com as marchas “Parafuso”, “Jura” e “Quebra-mar”.
Em 1952, a carreira de Adelino Moreira tomou um novo rumo. Foi quando ele conheceu o cantor Nelson Gonçalves, com quem formou uma das maiores parcerias da música brasileira. O encontro aconteceu no bar da Rádio Nacional e foi arranjado por Lourdinha Bittencourt, esposa de Nelson na época. Adelino apresentou ao cantor o samba-canção “Última seresta”, que Nelson cantou na mesma semana no Programa César de Alencar. A música foi levada ao disco em maio do mesmo ano. Começou assim uma parceria que durou muitos anos e transformou Nelson Gonçalves em um dos maiores intérpretes da obra de Adelino Moreira.
O primeiro grande sucesso da dupla foi “Meu vício é você”, gravado em 1955. Nelson pediu a Adelino uma música para completar um disco. A gravação principal era um tango, que segundo contava Adelino Moreira, “era bem orquestrado, bem arranjado e muito bem cantado. Entretanto, “Meu vício é você”, gravado quase que de improviso, com um regional, e uma introdução simples de Jacob do bandolim, foi o responsável pelo grande sucesso de vendagem”.
Em 1957, outra composição de Adelino Moreira fez grande sucesso na voz de Nelson Gonçalves: “A volta do boêmio”. Quando Adelino mostrou a música para Nelson, ele se recusou a gravar. Achou que era muito longa e que ninguém ia conseguir decorar a letra. Nelson ia gravar um disco que já incluía um samba-canção de Adelino e argumentou que não podia gravar duas músicas de um novato no mesmo disco. Adelino não insistiu. Porém, Nelson mudou de ideia e decidiu incluir a canção no disco. “A volta do boêmio” se tornou o maior sucesso da carreira dos dois, foi recorde de vendas e se tornou também o hino da seresta.
Além de “A volta do boêmio”, várias composições de Adelino gravadas por Nelson Gonçalves se tornaram clássicos do repertório seresteiro: “Fica comigo esta noite”, “Escultura”, “Meu dilema”, “Deusa do asfalto”, “Flor do meu bairro”, entre outras.
O talento de Adelino não ficou restrito a parceria com Nelson Gonçalves. Vários artistas gravaram suas músicas. Entre eles, Carlos Galhardo, Carlos Nobre, Cauby Peixoto, Dircinha Baptista, Ângela Maria, Aracy de Almeida e Nora Ney.
Em 1960, mais um samba-canção de sucesso: “Negue”. Lançado por Roberto Vidal, a composição foi gravada no mesmo ano por Carlos Augusto e Linda Rodrigues. Em 1978, foi regravado por Maria Bethania e mais uma vez uma composição de Adelino Moreira foi recorde de vendas. “Negue” também foi regravado, numa versão punk, pelo grupo “Camisa de Vênus”, em 1986.
Outra grande intérprete de Adelino foi a cantora Ângela Maria. Entre seus maiores sucessos estão “Cinderela”, “Borrasca”, “Esta noite ou nunca”, “Garota solitária”, “Ironia” e “Meu ex-amor”. O cantor Cauby Peixoto também incluiu em seu repertório canções de Adelino Moreira: “Duelo”, “Palavra que faltou”, “Pecado ambulante” e “Eterno sono”, entre outras.
No fim do ano de 1959, Adelino Moreira e Nelson Gonçalves estavam em uma boate em São Paulo quando ouviram uma cantora chamada Edenilde Araújo. Ao saber da presença de Adelino, ela cantou várias músicas do compositor. Adelino gostou muito da cantora e a levou para gravar na RCA Victor. Por razões artísticas, mudou seu nome para Núbia Lafayette. Em 1960, gravou duas composições de Adelino: o samba-choro “Nosso amargor” e o samba-canção “Devolvi”, que se tornou um de seus maiores sucessos.
Nas décadas seguintes, outros cantores regravaram sucessos de Adelino Moreira. Entre eles, Ney Matogrosso, Pery Ribeiro e Simone.
Em 1967, Adelino Moreira abriu uma churrascaria na casa onde morava, na Estrada do Monteiro, em Campo Grande. Era a Churrascaria Cinderela. No local, promovia serestas com vários cantores famosos da época. Passaram por lá Ademilde Fonseca, Cauby Peixoto, Carlos Alberto, Ângela Maria, Silvio Caldas, Nelson Gonçalves e muitos outros. Entre os frequentadores ilustres do local, estava o ex-presidente Juscelino Kubitschek.
Adelino Moreira foi presidente da SBACEM (Sociedade Brasileira de Autores, Compositores e Escritores de M úsica) e, entre 1981 e 1983, presidiu o ECAD (Escritório Central de Arrecadação e Distribuição de Direitos Autorais). O compositor faleceu no dia 7 de maio de 2002, aos 84 anos de idade.
Escrevia música para o povo – dizia. Nos últimos anos de vida revelou sentir-se orgulhoso por nunca mudar seu estilo. “A gente tendo um tema, organiza os versos e entrega ao cantor. Se o povo entender, o disco faz carreira. É preciso não complicar, porque senão o disco encalha”. E assim, Adelino Moreira entrou para a história da Música Popular Brasileira como um de seus mais autênticos e inesquecíveis autores.
Texto: Patricia Rodrigues
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O Grande Adelino Moreira